O objetivo deste vídeo é demonstrar a relação entre a crise econômica de 1929 e o crescimento eleitoral do nazismo, e de Hitler ao poder.
Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=yfWS6VX-Fos
Parte 2
http://www.youtube.com/watch?v=lu9jBQoateE
Parte 3
http://www.youtube.com/watch?v=ZlaQFcexP08
Parte 4
http://www.youtube.com/watch?v=8OOhOWvsMb4
http://www.brasilescola.com/upload/e/Totalitarismo%20-%20BRESCOLA%282%29.jpg
Este espaço destina-se a trabalhar atividades diversas do Colégio HMS - Comecinho de Vida (Maricá), nos conteúdos de História, Filosofia e Sociologia. VEJA TAMBÉM http://claudiouff.blogspot.com.br/
domingo, 22 de julho de 2012
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Para o 9º Ano - Assistir o vídeo
Mostra o início das agressões nazistas.
Redescobrindo a 2ª Guerra Mundial
http://www.youtube.com/watch?v=H54FLljDmKA
Redescobrindo a 2ª Guerra Mundial
http://www.youtube.com/watch?v=H54FLljDmKA
sábado, 14 de julho de 2012
OS TRABALHOS DE SOCIOLOGIA FORAM ALTERADOS!!!
Os trabalhos anteriores estavam muito pouco elaborados e foram descartados. Os que estão valendo são os que ficaram disponíveis.
Um abraço!!!!!
Um abraço!!!!!
Trabalho de Recuperação - 1º Ano
ATIVIDADE:
- Elaborar um resumo com as principais ideias contidas no texto;
- Complementar com uma crítica acerca do mesmo texto;
- Fazer um questionário com 10 perguntas e as respectivas respostas sobre o tema proposto na atividade.
MAGIA, CIÊNCIA E RELIGIÃO
INTRODUÇÃO
As palavras “magia”, “religião” e “ciência”, quando pensadas
isoladamente, parecem fazer sentido para qualquer pessoa. É difícil pensar que
alguém possa desconhecer o significado de tais palavras. Quando as mencionamos
em conjunto, a situação começa a se complicar um pouco, pois logo surgem
questões como: “O que essas coisas têm em comum?” É claro que pode surgir um
raciocínio que opere por oposição e imediatamente tente agrupar “magia” e
“religião” em contraposição a “ciência”, estabelecendo as duas primeiras como
pertencentes ao terreno do transcendental e a terceira ao campo dos
acontecimentos empíricos, ou seja, factíveis de experimentação.
Mesmo assim, continuamos sem saber o que diferencia “magia”
de “religião”, o que significa que não estabelecemos ainda uma diferenciação
entre os pensamentos “mágico” e “religioso”. Seja como for, ainda estamos nas
margens de um tema bastante complexo que ocupa uma parte significativa dos
trabalhos antropológicos há mais de um século. Vamos aprofundar esta discussão
e entender melhor os conceitos de “magia”, “ciência” e “religião”?
O pensamento mágico e o comportamento religioso
Uma das mais importantes e influentes teorias sobre o
pensamento mágico foi formulada pelo antropólogo escocês Sir James George
Frazer (1854-1941), no livro intitulado O ramo de ouro (The Golden Bough). A
primeira edição foi publicada em 1890, então com dois volumes. Já em 1900 era
publicada a segunda edição, agora com três volumes. A terceira edição se destacou
por seu tamanho: doze volumes publicados entre 1911 e 1915 (cf. KARDNER;
PREBLE, 1964, p. 81), consagrando a obra de Frazer como parte da literatura
clássica sobre mitologia, magia e religião. Em 1912 surgiria ainda uma edição
resumida da obra e, em 1935, um décimo terceiro volume, intitulado Aftermath,
concluindo assim o grande trabalho iniciado em 1890 (cf. BONTE; IZARD, 2008).
O ramo de ouro teve grande repercussão e rapidamente
ultrapassou o âmbito propriamente antropológico, tornando-se literatura conhecida
entre pessoas leigas. Entre os antropólogos, a obra foi bem recebida,
garantindo a Frazer uma série de honrarias acadêmicas e declarações tais como
as de Bronislaw Malinowski: “talvez a maior odisseia científica do humanismo
moderno” (cf. KARDNER; PREBLE, 1964, p. 81).
Já no prefácio do livro, Frazer indicava aquilo que
intencionava realizar em seu trabalho: “O principal objetivo deste livro é
explicar a notável regra que regula a sucessão do sacerdote de Diana em Arícia”
(2003). De acordo com Pierre Bonte e Michel Izard:
“Na época da antiga Roma, em Nemi, nos Montes Albanos, se
encontrava um santuário cujo sacerdote, “o rei do bosque”, era um escravo
fugitivo que havia obtido seu ofício assassinando seu predecessor. Por que,
antes de cometer o assassinato, o escravo deveria cortar um galho da árvore
plantada no interior do santuário, à semelhança de Enéas cortando um “galho de
ouro” antes de entrar no reino dos mortos? Esta é a pergunta que inicia a
pesquisa e dá uma relativa coerência a um conjunto desconexo de estudos em que
Frazer, frequentemente como pioneiro, aborda múltiplos temas que hoje estão no
centro da reflexão antropológica: a monarquia “sagrada” e a morte ritual do
rei, o totemismo, a noção de “tabu”, o bode expiatório etc. (p. 298)”.
Frazer escreveu sua obra no período de maior efervescência
do pensamento evolucionista, e podemos perceber as influências da época sobre
suas ideias. Nesse sentido, o antropólogo concebe magia, religião e ciência
como degraus evolutivos percorridos pela humanidade na sua concepção e ação
sobre a natureza. Para ele, as religiões são entendidas como resultados de
processos sócio-históricos, e por isso sua preocupação não se dirige à
averiguação da veracidade dos sistemas de crenças, mas sim para suas implicações
e ligações com as diferentes situações sociais.
Nessa linha de raciocínio, a magia surge como o meio através
do qual o “homem primitivo” busca manipular as forças da natureza. Frazer,
então, elabora as duas leis que caracterizam o pensamento mágico em sua teoria:
1) a Lei da Similaridade; 2) a Lei do Contato ou do Contágio.
A primeira lei se baseia na ideia de que o homem reconhece a
natureza como algo uniforme e entende que isso origina uma similaridade de
causas e efeitos: semelhante atua sobre semelhante.
A Lei do Contágio, por sua vez, funda-se na perspectiva de
que as coisas que já estiveram em contato continuarão a atuar umas sobre as
outras mesmo a distância (cf. KARDNER; PREBLE; 1964, p. 92).
Desse modo, poderíamos pensar que as Leis da Similaridade e
do Contágio caracterizariam a forma de pensamento mágico e, portanto, as formas
pelas quais seriam praticados os ritos de magia.
No que diz respeito à Similaridade, podemos imaginar que,
usando determinados seres ou objetos sobre os quais tem controle, o homem
poderia agir sobre fenômenos exteriores, a princípio incontroláveis, daí a
possibilidade de uso de animais de grande prole em ritos para aumentar a
fertilidade de mulheres ou o uso de animais predadores em ritos que objetivavam
melhorar a caça.
Já a Lei do Contágio ou Contato, que preconiza a
continuidade da relação daquilo que já esteve em contato, pode ser observada no
uso de objetos pessoais para exercer algum tipo de efeito sobre seus
possuidores originais: feitiços para obter o amor de uma pessoa, para
prejudicá-la etc.
Contágio e similaridade formavam assim os princípios básicos
do que Frazer chamou de magia simpática, pois “ambos supõem que as coisas agem
umas sobre as outras a distância mediante uma ‘simpatia secreta’, transmitida
através de um meio invisível por obra de um impulso” (cf. KARDNER; PREBLE;
1964, p. 92).
Os ritos mágicos são, assim, a execução de uma série de
ações fundadas nos princípios da magia simpática, buscando, num plano
metafórico, agir sobre a natureza através da reprodução de gestos e palavras.
Se as regras forem seguidas da forma correta, se aquilo que é feito no rito for
executado de modo semelhante ao que ocorre na natureza, então, aquilo que, num
plano metafórico, é realizado ou transformado no rito será também realizado ou
transformado no universo.
Através da magia e dos ritos mágicos, magos e bruxos
buscavam controlar a natureza. Tornavam-se, assim, os senhores do universo.
Diante deles, nenhum deus ou semideus se impunha, uma vez que eram eles, os
magos, que atuavam sobre as forças naturais através de seus ritos.
Os efeitos do aperfeiçoamento e da detenção dessa arte
mágica foram apontados por Frazer na concentração de poder nas mãos de poucos
indivíduos. Tratava-se, segundo o antropólogo escocês, dos estágios primordiais
do que viriam a ser os sistemas monárquicos.
Ao contrário da magia, a religião era apontada por Frazer
como o reconhecimento do homem de sua incapacidade de atuação sobre as forças
naturais. Se o controle do universo não pertencia à ordem imanente, isto é, à
dimensão empírica da realidade, logo, ele deveria estar no plano transcendente,
ou seja, entre seres espirituais. Seres superiores aos humanos entravam em
cena, sendo eles os detentores da capacidade de dirigir os rumos da existência
humana e dos fenômenos naturais. O homem não mais podia atuar diretamente sobre
a natureza, mas podia conquistar seus desejos atuando sobre os deuses,
implorando ou mesmo intimidando-os a fim de que estes alterassem o curso dos
acontecimentos em virtude dos desejos terrenos (cf. idem, p. 93).
“O estudo das sociedades primitivas ensinou-lhe que, em
muitos casos, o rei era morto pelo povo ou dava cabo da própria vida, segundo
um costume estabelecido, o que geralmente acontecia quando principiava a
envelhecer e a perder as forças. Sintoma comum de decadência consistia no
decréscimo da potência sexual. Se, como cuidava Frazer, a prosperidade dos
membros de uma sociedade era vista por eles como que ligada ‘por simpatia’ à
força e, particularmente, à virilidade do rei, o enfraquecimento interessaria a
todos. Adoecendo, o gado deixaria de reproduzir-se, as colheitas minguariam e
os homens pereceriam de fome e doença. Morto o rei na véspera do dia em que
principiasse a decair, poderia liberar-se- lhe a alma na época da sua maior
força e passar, por descendência ou transmissão, a um sucessor. Era esta,
pensou Frazer, a idéia que se ocultava no plano sacerdotal em Nemi (idem, p.
95)”.
Os sistemas de crenças mágicas e religiosas tornaram-se,
então, um dos principais tópicos de interesse de sociólogos e antropólogos na
virada do século XIX para o século XX. Em 1912, a publicação do livro As formas
elementares da vida religiosa garantiria a Émile Durkheim um lugar de destaque
nas referências de estudos sobre magia e religião.
Durkheim tomava as religiões como objetos de análise,
entendendo-as como coisas pertencentes a um mesmo gênero e, consequentemente,
compartilhando uma mesma essência:
“Na base de todos os sistemas de crenças e de todos os
cultos, deve necessariamente haver um certo número de representações
fundamentais e de atitudes rituais que, apesar da diversidade de formas que
tanto umas como outras puderam revestir, têm sempre a mesma significação
objetiva e desempenham por toda parte as mesmas funções (2000, p. X)”.
As religiões dos povos então pensados como primitivos
surgiam para Durkheim como objeto privilegiado de observação, pois apresentavam
o que para ele era um maior grau de simplicidade e não sofriam a interferência
de outros sistemas religiosos.
Percebendo as religiões como especulações sobre o divino,
Durkheim aponta para os sistemas de crenças e ações religiosas como a base da
cosmologia de uma sociedade. Estudar uma religião é, em última instância,
pesquisar sobre as representações sociais de um povo e suas categorias de
classificação do mundo.
Como argumento central do livro, temos a ideia de que a
religião é um fenômeno de origem social, em que cada manifestação de
religiosidade nada mais é do que a expressão das representações de um dado
povo. Em poucas palavras, podemos dizer que a religião é fruto e espelho da
sociedade na qual se manifesta.
Festas, ritos e cultos constituem partes de um sistema
religioso, mas não sua totalidade. Porque esta, mais que um sistema de
práticas, é também um sistema de ideias que expressam as concepções sociais do
mundo (cf. DURKHEIM, 2000, p. 474).
Os cultos, nessa perspectiva, surgiam como os responsáveis
pela criação e recriação da fé. Através deles a sociedade faz sentir sua
influência, pois é neles que os indivíduos se agrupam e agem em comum.
E o que significam os cultos e as manifestações religiosas?
Segundo Durkheim, significam o espelho da própria sociedade, ou seja, os
valores e as representações de uma determinada coletividade. Nesse sentido, a
religião é a sociedade simbolizada e “elevada a uma inatacável autoridade
moral. A sociedade, como expressão dos sentimentos coletivos de um povo, é,
acima de tudo, uma realidade moral, a representação concreta dessa realidade”
(KARDNER; PREBLE,1964, p. 125).
A religião, nessa ótica, atuaria de modo a promover e
incentivar, mesmo que de modo inconsciente, um comportamento humano desejável
para a manutenção da sociedade. Cooperação, busca de bens comuns, sacrifícios e
ações dirigidas de modo altruísta encontrariam o incentivo necessário em uma
força que transcende o indivíduo.
O pensamento científico
Vimos que, para Frazer, a magia representava um meio através
do qual o “homem primitivo” agia sobre a natureza de acordo com suas vontades e
necessidades. Era o modo pelo qual o homem ordenava o universo. No pensamento
evolucionista do autor, a magia tendia, num período mais avançado do processo
evolutivo, a ser substituída pela religião, quando os homens teriam a
consciência da ineficiência de seus atos mágicos sobre o universo e, então, reconheceriam
a existência de seres superiores no controle do cosmos.
A religião, por sua vez, tenderia a ser paulatinamente
substituída pela ciência, na medida em que esta seria a maneira por excelência
de intervenção do homem sobre o universo. Provando a eficiência do método
científico, o homem acabaria substituindo os pensamentos mágico e religioso
pela lógica e pela razão trazidas pela ciência.
Nesse sentido, percebe-se que Frazer associa magia, religião
e ciência com métodos desenvolvidos pelo homem para atuar sobre a natureza. A
cada etapa evolutiva equivaleria uma forma de expressão, sendo a magia
percebida como o polo mais “primitivo” e a ciência, como o mais “civilizado”.
Durkheim segue a mesma linha de raciocínio e escreve o
seguinte a respeito de religião e ciência:
“(...) contrariamente às aparências, constatamos que as
realidades às quais se aplica então a especulação religiosa são as mesmas que
servirão mais tarde de objeto à reflexão dos cientistas: a natureza, o homem, a
sociedade. (...) Essas realidades, a religião se esforça por traduzi-las numa
linguagem inteligível que não difere em natureza daquela que a ciência emprega;
de parte a parte, trata-se de vincular as coisas umas às outras, de estabelecer
entre elas relações internas, de classificá-las, de sistematizá-las (2000, p.
475).”
Posteriormente, no entanto, as semelhanças entre religião e
ciência foram contestadas. John Beattie, um antropólogo de meados do século XX,
entendia a religião como algo que denotava um comportamento expressivo e dramático,
estando mais próxima do terreno das artes que da ciência. Para Beattie, a
religião tinha relação com simbolismo e não com procedimentos práticos (cf.
RAPPORT; OVERING, 2005, p. 325).
A proximidade entre as formas de pensamento religioso e
científico, no entanto, continuava a ser defendida. Robin Horton apresentava a
ideia de que a religião fora substituída por um outro tipo de conhecimento.
Nesse sentido, o Gênesis do pensamento judaico-cristão foi substituído pelo Big
Bang, e um Deus desencarnado deu lugar a uma razão e racionalidade científicas.
Isso, todavia, não significa que religião e ciência sejam conhecimentos
idênticos, pois, tal como reconhece o autor, o pensamento científico é algo
“aberto” se comparado ao tipo “fechado” que caracteriza o pensamento religioso
(cf. RAPPORT; OVERING, 2005, p. 325).
O físico americano Thomas Samuel Kuhn (1922-1996) escreveu
em 1970 aquilo que veio a se tornar um clássico entre os estudos sobre a
ciência: A estrutura das revoluções científicas. Nesse trabalho, Kuhn questiona
aquilo que Horton chamava de “abertura” do pensamento científico e mostra como
as pesquisas e teorias representam verdadeiros paradigmas que envolvem os
interesses dos cientistas.
Na teoria de Kuhn, as revoluções científicas são as rupturas
de paradigmas. Um paradigma molda a ação, o interesse e as possibilidades do
pensamento científico de uma época. O constante surgimento de questões não
solucionáveis por um paradigma leva à sua queda e à consequente substituição
por um novo paradigma.
Desse modo, o trabalho de Kuhn destaca as dificuldades de
superação dos paradigmas científicos e, por conseguinte, as limitações daquilo
que antes se pensava como uma modalidade de pensamento “aberta”, daí a ideia de
pensar os paradigmas científicos como verdadeiros dogmas de um tempo.
Assim, chegamos hoje a ter uma Sociologia da Ciência, na
qual esta é percebida como um campo social tal como tantos outros, inclusive a
religião. E os resultados dos conhecimentos científicos começam a ser
observados por essa ótica.
Nas palavras de Nigel Rapport e Joanna Overing (2005, p.
330), encontramos aquilo que, de certo modo, resume uma possibilidade de
análise sociológica do campo científico: “Fatos podem ser vistos como
conseqüências do trabalho científico tanto quanto sua causa, e a ‘realidade’
como o resultado de uma disputa científica.”
CONCLUSÃO
Magia, religião e ciência, enquanto temas de reflexão,
ocupam os trabalhos de sociólogos e antropólogos desde a origem de suas
disciplinas. Inicialmente pensadas como etapas evolutivas de um processo de
aperfeiçoamento social, tais atividades foram comparadas, aproximadas e
afastadas por diferentes pesquisadores.
O pensamento atual sobre tais temas os coloca não mais como
etapas evolutivas, mas sim como atividades da vida social – tal como a
política, a economia, a educação etc. –, sendo, portanto, todas elas passíveis
de serem pensadas do ponto de vista sociológico, na medida em que existem de
modo semelhante aos outros campos sociais.
Desse modo, quando pensamos sobre magia, religião e ciência,
atualmente nos referimos a temas distintos, mas todos eles como formas de
expressão simbólica, apresentando maneiras de atuação e representação sobre o
mundo, gerando coerções sobre seus membros, desempenhando seus próprios rituais
e, enfim, denotando uma forma específica de interação social.
Trabalho de Sociologia - 2º Ano
ATIVIDADE:
- Leia o texto e faça um resumo com as principais ideias;
- Acrescente uma crítica;
- Monte um questionário com 10 perguntas com as respostas.
INDIVÍDUO, PESSOA E SOCIEDADE
INTRODUÇÃO
O estudo das categorias de pensamento, como categorias
sociais, foi inaugurado pela Escola Sociológica Francesa. Aprendemos, a partir
dos trabalhos dessa escola, que as categorias a partir das quais os homens
classificam o mundo são a matéria-prima da análise antropológica. Elas são
fundamentais na construção das visões de mundo de cada cultura, estando na base
de todo e qualquer sistema de classificação. Vimos também que essas categorias
ou representações são o resultado de um processo histórico, sendo consideradas
o resultado de um trabalho de construção coletiva.
Portanto, compreendemos que elas não podem ser tomadas em um
único sentido, mas que, ao contrário, devem ser apreendidas e relativizadas a
partir de cada contexto cultural particular, já que, de acordo com as
afirmações de Durkheim e Mauss, as sociedades devem ser entendidas em sua
totalidade.
Dentre essas categorias, as noções de indivíduo e pessoa são
categorias fundamentais na análise antropológica. E foi também a partir dos
estudos desenvolvidos pela Escola Sociológica Francesa que se desenvolveu uma
perspectiva propriamente antropológica da noção de pessoa. Tal perspectiva
surge claramente com Marcel Mauss, num artigo clássico publicado originalmente
em 1938 (MAUSS, 1974). Ele acompanha o desenvolvimento dessa noção, buscando
explicar como a ideia de “pessoa”, a ideia de um “eu”, foi sendo elaborada ao
longo do tempo, até desembocar na ideia de indivíduo, tal qual nós a concebemos
no seio da sociedade ocidental moderna. A perspectiva adotada por Mauss é, mais
uma vez, a perspectiva da Escola Sociológica Francesa, que se dedicou a
reconstruir uma espécie de história social das categorias de pensamento,
visando demonstrar como tais categorias, que julgamos inatas, nasceram e muito
lentamente foram se desenvolvendo ao longo de muitos séculos.
O PENSAMENTO DE MARCEL MAUSS
Segundo Mauss, jamais houve ser humano que não tenha tido o
sentido de sua individualidade. No entanto, essa noção do “eu” como uma
categoria, tal qual nós a concebemos, foi sendo elaborada através de numerosas
sociedades, adquirindo pouco a pouco o conjunto de significados que os homens
das diversas épocas foram atribuindo a ela.
Ao longo do tempo ela foi assumindo inúmeros significados,
passando a recobrir desde a ideia de persona latina até chegar à noção de
pessoa como ser psicológico individualizado que somos identificados na
modernidade. E o trabalho de Mauss buscou exatamente evidenciar o processo de
construção social dessa categoria. A reconstituição de sua trajetória histórica
tem por objetivo mostrar as diversas formas que a noção foi assumindo até
atingir, finalmente, a ideia de “pessoa como fato moral” expressa na ideia de
indivíduo, concepção que essa noção assumiu em nossa sociedade. Mauss também
chamou a atenção para o quanto a categoria “eu” é recente e, consequentemente,
o quanto é também recente o respeito ao “eu”, particularmente ao “eu” dos
outros.
A CONTRIBUIÇÃO DE LOUIS DUMONT
Seguindo a tradição da Escola Sociológica Francesa, será
Louis Dumont que buscará caracterizar as implicações da distinção entre a noção
de pessoa e a noção de indivíduo como categorias histórica e socialmente
construídas. Para isso, ele empreende o estudo da sociedade tradicional de
castas da Índia, a partir de um ponto de vista comparativo com a sociedade
ocidental moderna, cujos resultados foram publicados sob o título Homo
Hierarchicus: o sistema de castas na Índia (DUMONT, 1992). Segundo Dumont, o
sistema de castas indiano nos ensina um princípio social fundamental, a
hierarquia, cujo oposto, o princípio da igualdade, foi apropriado por nós,
ocidentais modernos, como fundamento do próprio modelo de democracia que
caracteriza nossas sociedades.
É interessante na proposta de Louis Dumont que, ao tentar
compreender o sistema tradicional de castas da Índia, nós compreendemos melhor
a natureza, os limites e as condições de realização do próprio igualitarismo
moral e político ao qual estamos vinculados em nossos modelos de democracia.
O PAPEL DA IDEOLOGIA
Dumont estava interessado em compreender a importância e o
lugar das ideias, das crenças e dos valores, ou, em outras palavras, da
ideologia na vida social. Desta perspectiva, ele busca compreender a ideologia
do sistema de castas indiano, que tem como princípio estrutural a hierarquia,
enquanto no sistema igualitário que caracteriza a sociedade moderna, o
princípio estrutural seria a noção de indivíduo e as noções que a ele
correspondem de individualismo e igualitarismo. A partir de seu estudo
comparativo, o que se evidencia é que a ideologia do sistema de castas indiano
é diretamente oposta à ideologia igualitária da qual participamos. E, como
afirma Dumont, enquanto a ideologia moderna continuar sendo tomada como uma
verdade universal, tanto como ideal moral e político, mas também como expressão
adequada da vida social, sempre parecerá estranho às sociedades ocidentais
modernas compreender a ideologia do sistema de castas na Índia ou qualquer
outra ideologia que tenha como princípio a hierarquia.
A IGUALDADE COMO VALOR
Segundo Dumont, as ideias fundamentais e norteadoras da
sociedade ocidental moderna são as ideias de igualdade e liberdade, que supõem
como princípio único a ideia de indivíduo. Por sua vez, essa ideia de indivíduo
tem como fundamento uma concepção de que a humanidade é constituída de seres concebidos
como portadores da própria essência da humanidade, apesar das particularidades
provenientes de cada cultura.
Igualdade
Essa ideia de indivíduo é quase sagrada nas sociedades
modernas, sendo tomada por nós em seu sentido absoluto, isto é, seus direitos
só são limitados pelos direitos dos outros indivíduos. Enfim, a partir desse
ponto de vista, o indivíduo é concebido como uma mônada, e todo o grupo humano
é constituído de mônadas. Assim, da perspectiva da concepção individualista a
sociedade é pensada como uma simples coleção dessas mônadas.
Essa é a visão de mundo da sociedade ocidental moderna e é
em relação a ela que Dumont chama a atenção para a importância do que ele
define como “apercepção sociológica”, ou seja, da percepção da natureza social
do homem. Assim, ao indivíduo autossuficiente que fundamenta a concepção
individualista moderna, a “apercepção sociológica” recupera a concepção do
homem social, isto é, do homem que realiza a sua humanidade a partir da vida em
sociedade. Desta perspectiva, tomando-o como um ser antes de tudo social,
considera-se cada homem não mais como a encarnação particular de uma humanidade
abstrata. Mas como a encarnação de uma humanidade coletiva particular, de uma
cultura específica, pertencente a uma determinada sociedade. Nesse sentido, a
“apercepção sociológica” busca preencher precisamente a lacuna que a
mentalidade individualista introduz quando confunde, segundo as palavras do
próprio Dumont, “o ideal com o real”.
Acredita–se, com frequência, que o social consiste apenas de
maneiras de comportamento do indivíduo. Assim, o homem age em função do que ele
pensa, e sua ação é sempre dominada pelas representações que faz da realidade.
Se possui, em certo grau, a faculdade de organizar seus pensamentos ao seu
modo, de construir novas categorias, ele o faz a partir do repertório das
categorias socialmente dadas.
Neste sentido, uma das maiores contribuições da Escola
Sociológica Francesa foi exatamente ter insistido na presença do social em cada
homem, na primazia do social no processo de construção das categorias de
pensamento. Durkheim recorreu, para exprimir essa ideia, à noção de
“representações coletivas”, procurando demonstrar que a percepção que temos de
nós mesmos não é inata, mas aprendida e determinada socialmente. Em última
análise, ela nos é prescrita, imposta pela sociedade em que vivemos, ou, melhor
dizendo, a percepção que temos de nós mesmos é aprendida culturalmente.
Dessa forma, e a partir da perspectiva comparativa proposta
por Dumont, as sociedades tradicionais, que desconhecem as ideias de igualdade,
de liberdade e de indivíduo como valores tal qual nós as concebemos, se
organizam socialmente a partir da ideia do homem como ser que vive em
sociedade. E, recorrermos à nossa apercepção residual do homem social é a única
maneira através da qual podemos compreendê–las. Essa seria propriamente a
perspectiva de uma sociologia comparativa, proposta por Louis Dumont.
O INDIVÍDUO COMO CATEGORIA ANALÍTICA
Assim, a apercepção sociológica, tal como formulada por Dumont,
atuaria contrariamente à visão individualista do homem. Teria como consequência
imediata a transformação da ideia de indivíduo numa questão para a sociologia e
para a antropologia. O autor lembra ainda que foi Max Weber, numa nota de pé de
página de seu trabalho intitulado “A ética protestante e o espírito do
capitalismo”, que chamou a atenção para o fato de que a noção de individualismo
recobria uma vasta gama de significados, sugerindo, assim, a sua investigação a
partir de uma perspectiva mais propriamente sociológica (ver DUMONT, 1992, p.
57). Tal sugestão foi prontamente seguida por Louis Dumont, tanto em sua
reflexão sobre o sistema tradicional de castas da Índia, como em seu importante
trabalho intitulado “O individualismo – uma perspectiva antropológica da
ideologia moderna” (1985).
Dumont começa por distinguir a noção de indivíduo em dois
sentidos: primeiro o agente empírico, presente em toda a sociedade. Segundo, o
ser de razão, o sujeito normativo das instituições, próprio das nossas
sociedades modernas, sendo, portanto, uma representação no plano das ideias,
elaborada no seio de uma configuração cultural particular. Essas duas
configurações se opõem de imediato, e a elas correspondem, de um lado, às
sociedades tradicionais, onde o acento recai sobre a sociedade e seu conjunto.
De outro, as sociedades modernas, onde a noção de indivíduo foi transformada
num valor. No plano da ideologia, Dumont vai, então, comparar a configuração
geral dos valores nas sociedades igualitárias com a configuração dos valores no
universo hierárquico como duas maneiras particulares de considerar e
classificar o mundo social.
Dumont vai afirmar que a noção de indivíduo moderno não se
opõe à sociedade do tipo hierárquico como a parte ao todo, mas como seu igual
ou homólogo, ou seja, a noção de indivíduo está para a sociedade tradicional,
assim como a noção de pessoa está para a sociedade moderna. Do mesmo modo que o
sistema tradicional de castas da Índia pode nos parecer estranho, também o
nosso individualismo pode aparecer estranho aos indianos. Nesse sentido, embora
os princípios sejam opostos, há uma correspondência do papel que eles
desempenham em cada um desses modelos de sociedade. Neste sentido, tanto a
concepção individualista quanto a concepção hierárquica, em suas configurações
particulares, corresponderiam à essência do homem. No caso da sociedade
moderna, é importante destacar que essa tendência individualista, que se impôs
e se generalizou desde o século XVIII, acompanhou o desenvolvimento moderno da
divisão social do trabalho, daquilo que Durkheim chamou de solidariedade
orgânica (ver Aula 6). Desta perspectiva, houve uma inversão com relação às
sociedades tradicionais que, no plano dos fatos, justapunham particularidades
idênticas, e no plano do pensamento, viam a totalidade. A sociedade moderna, ao
contrário, age em conjunto e pensa a partir das particularidades idênticas, ou
seja, do indivíduo. Na sociedade moderna, os ideais de liberdade e igualdade se
impõem a partir da concepção do homem como indivíduo. E, supondo-se que toda a
humanidade está presente em cada homem, então, consequentemente, cada homem
deve ser livre e todos os homens são iguais.
Dessa forma, enquanto o princípio igualitário é o princípio
estruturante da sociedade moderna, a hierarquia é o princípio estruturante das
sociedades tradicionais. Mas, em ambos os casos, é preciso restituir esses
princípios ao seu contexto cultural, relacionando-os à ideologia que de fato
eles acompanham, ficando claro que só em relação a essa totalidade reconstituída,
a ideologia poderá assumir seu verdadeiro sentido sociológico. Na expressão de
Dumont, é preciso englobar a ideologia e seu contexto. A perspectiva
comparativa empreendida pelo autor permite distinguir, dessa forma, dois
modelos de sociedade: aquelas em que o indivíduo tornou- se um valor supremo,
denominou-se individualismo. Aquelas em que o valor fundamental encontra-se na
sociedade como um todo, denominou-se holismo.
A análise comparativa empreendida por Dumont entre o sistema
de castas indiano e a sociedade igualitária nos possibilita, assim, compreender
como o princípio hierárquico é um traço fundamental das sociedades
tradicionais. Nesses sistemas sociais, a hierarquia exprime a unidade da
sociedade, ligando-a ao que lhe aparece como universal, a uma concepção da
ordem cósmica, integrando-a, dessa forma, por referência aos valores mais
tradicionais. No caso da sociedade moderna, onde o indivíduo se torna a medida
de todas as coisas e a fonte de toda “racionalidade”, o princípio igualitário
se opõe às hierarquias tradicionais. Assim, a igualdade e a hierarquia não se
opõem, de fato, da maneira mecânica que a consideração desses valores isolados
poderia levar a imaginar. Podemos supor aqui uma oposição estrutural, onde o
polo não valorizado da oposição não está menos presente, ou seja, tanto a
hierarquia quanto a igualdade estão presentes em todos os tipos de sociedade.
Na verdade, cada um dos polos supõe e se apoia no outro. Mas enquanto nas
sociedades tradicionais a hierarquia “engloba” a igualdade, nas sociedades
ocidentais modernas ocorre o contrário, a igualdade “engloba” a hierarquia. É o
que Dumont chama de “englobamento do contrário”. Enquanto nas sociedades
tradicionais o princípio estrutural englobante é a hierarquia, nas sociedades
modernas o princípio estrutural englobante é a igualdade.
Inspirado na reflexão de Mauss sobre a noção de pessoa e de
Louis Dumont, sobre a noção de indivíduo como um valor moral, Roberto DaMatta,
em seu brilhante ensaio “Você sabe com quem está falando?”, publicado no
clássico livro intitulado Carnavais, malandros e heróis – por uma sociologia do
dilema brasileiro (DAMATTA, 1981), procurará mostrar como a noção de indivíduo
pode ser colocada em contraste com a ideia de pessoa, ambas tomadas como
categorias socialmente construídas, para finalmente demonstrar como as duas
noções permitem apreender o dinamismo necessário para revelar a dialética do
universo social brasileiro.
Matta
Seguindo os passos de Dumont, DaMatta considera que, num
plano, temos a noção empiricamente dada do indivíduo como realidade concreta,
ou seja, a amostra individual da espécie humana, independente das ideologias ou
representações coletivas ou individuais. Sabemos, assim, que não existe formação
social sem a presença do indivíduo. Num outro plano, como também já vimos,
temos o indivíduo como uma entidade moral, como uma unidade social relevante
numa determinada formação social, capaz de gerar as ideias correlatas de
individualismo e igualitarismo. Esse indivíduo é um fato social e histórico,
produto da civilização ocidental moderna, onde a ideia de indivíduo foi
apropriada ideologicamente como valor central, como centro do universo social.
Assim, embora toda sociedade seja constituída de indivíduos empiricamente
dados, nem toda sociedade tomou esse fato como ponto central de sua elaboração
ideológica (DAMATTA, 1981).
A partir das análises de Dumont, podemos considerar que a
ideia de indivíduo recebeu, ao longo da história, duas elaborações distintas.
Nas sociedades modernas, tomou a sua vertente mais individualizante, dando-se
ênfase ao “eu individual”, repositório de sentimentos e emoções, capaz de
pretender a liberdade e a igualdade. Nessa construção histórica, a parte
(indivíduo) é, de fato, mais importante que o todo (sociedade). Já nas
sociedades tradicionais, encontramos uma outra versão do indivíduo
empiricamente dado que é a elaboração de seu polo social. Nesse caso, a
ideologia desenvolvida não é mais a da igualdade de todos, mas a da complementaridade
de cada um para formar uma totalidade que só pode ser constituída quando se tem
todas as partes. Assim, em vez de termos a sociedade contida no indivíduo,
temos o indivíduo contido e imerso na sociedade. E é essa vertente que
corresponde à noção de pessoa como entidade capaz de remeter ao todo, sendo um
elemento fundamental através do qual se realizam relações essenciais e
complementares da vida social.
Como podemos observar, as duas formas de elaboração do
indivíduo são largamente utilizadas em todas as sociedades humanas, mas a noção
de indivíduo como unidade isolada e autocontida foi desenvolvida no Ocidente.
Enquanto que nas sociedades holísticas, hierárquicas e tradicionais, a noção de
pessoa é dominante. Mas o ponto importante para a perspectiva teórica que
DaMatta vai adotar para pensar a sociedade brasileira é que as duas noções
estão sempre presentes e, de fato, existe uma dialética entre elas.
No caso, como contraste à realidade brasileira, DaMatta toma
como referência a sociedade norte-americana. Segundo DaMatta, nessa formação
social raras são as situações em que existem “pessoas”, embora, evidentemente,
tal noção continue existindo, por exemplo, nos bairros porto-riquenhos,
italianos, judeus, enfim, em todos os contextos em que prevaleçam um sistema
holístico de relações sociais, baseado nas relações pessoais e hierarquizadas.
Ao mesmo tempo, temos, nessa formação social, a ideologia do
sucesso e a meritocracia, que é um modo de conciliar, numa sociedade de iguais,
a diferenciação concreta dos homens, como se fosse um modo de diferenciar sem
hierarquizar. Assim, como membros do círculo do sucesso, os VIP (very important
persons), possuem o privilégio do tratamento especial num mundo feito de
pessoas anônimas e iguais. Dessa forma, o sistema individualista encontra uma
forma para que nele possam operar os valores das relações pessoais, o que, de
certo modo, serve de justificativa para os valores da igualdade e do
individualismo.
No entanto, diferentemente da Índia, que exclui sistematicamente
o indivíduo, ou dos Estados Unidos, que exclui sistematicamente a pessoa, no
Brasil, segundo DaMatta, as duas noções são básicas. Isso pode ser claramente
evidenciado a partir do rito autoritário do “Você sabe com quem está falando?”,
pois, nesse caso, temos de um lado a ênfase numa lei universal cujo sujeito é o
indivíduo, e, de outro, temos a resposta indignada de uma “pessoa” que exige um
tratamento especial. Em sistemas assim, temos as duas noções, operando de modo
simultâneo, devendo a pesquisa sociológica evidenciar os contextos onde o
“indivíduo” ou a “pessoa” são requeridos (DAMATTA, 1981).
No caso da sociedade brasileira, em termos da dialética do
indivíduo e da pessoa, tem-se a possibilidade de recorrer tanto a uma quanto à
outra categoria, dependendo do contexto. Temos, assim, um universo formado por
um pequeno numero de pessoas, altamente hierarquizado, comandando o destino de
uma multidão de indivíduos, que devem obedecer à lei. No sistema social
brasileiro, então, a lei universalizante e igualitária é frequentemente
utilizada como um elemento fundamental de sujeição e diferenciação política e
social. Em outras palavras, as leis só se aplicam aos indivíduos e nunca às
pessoas. E, para Roberto DaMatta, aqui reside o centro do dilema brasileiro,
pois temos a regra universal que supostamente deveria corrigir as desigualdades
servindo para legitimá-las, na medida em que as leis tornam o sistema de
relações pessoais mais solidário e mais operativo para superar as dificuldades
colocadas pela autoridade impessoal da regra.
Assim, o estudo sociológico do “Você sabe com quem está
falando?” permite colocar e retomar uma série de problemas básicos e
estruturais da sociedade brasileira, caracterizada por um sistema de leis
universalizantes, mas mantendo, ao mesmo tempo, um forte esqueleto
hierarquizante. A sugestão de DaMatta é de que o Brasil ficaria situado entre a
hierarquia e a igualdade, entre a individualização que governa o mundo
igualitário e o código das moralidades pessoais. De fato, a sugestão é de que
temos os dois sistemas operando numa relação de reflexividade, de modo que
sempre oscilamos de um lado para o outro, de acordo com as circunstâncias.
CONCLUSÃO
Assim, podemos compreender melhor como as noções de
indivíduo e pessoa, tomadas aqui como categorias analíticas, podem nos ajudar a
compreender sistemas sociais distantes do nosso próprio modelo de sociedade,
mas, ao mesmo tempo reconhecer e identificar de que modo valores como igualdade
e hierarquia são princípios que organizam esses modelos de sociedade
aparentemente tão diferentes, mas que guardam mais semelhanças do que se pode
imaginar ao primeiro olhar.
Assinar:
Postagens (Atom)