quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Oriente Médio - A Proposta de Dois Estados (Contra)

Dois Estados: entre miragem e simulacro

 É preciso saber se se busca uma solução justa para a Palestina ou só uma solução

A criação de dois Estados é a melhor solução para o conflito Israel x Palestina?
NÃO

Quando se pensa a questão da Palestina, é preciso decidir se o que se está buscando é uma solução justa ou apenas uma solução.                                                                
É verdade que a Justiça é um conceito fugidio e que a sua realização por completo talvez não seja deste mundo. Mas ainda assim é algo que se pode perseguir.
A pergunta então é se a solução de dois Estados, segundo a fórmula agora consagrada, vivendo em paz, lado a lado, é uma solução, e se é, além disso, uma solução justa.

Ainda que, já faz um tempo, pareça haver razoável consenso de que a solução dos dois Estados é a única cabível – o que lhe empresta alguma legitimidade – o fato é que essa convicção nasce muito mais de um julgamento sobre a sua factibilidade política do que sobre a sua natureza equânime.
As pessoas e os Estados podem se convencer de que o melhor, o mais justo, é dar à tragédia nacional palestina, que é mais comumente representada como um conflito entre dois povos com pretensões concorrentes – por vezes, equivalentes – sobre a mesma terra, uma resposta que tenha alguma esperança de permanência e que seja aquela possível, nas circunstâncias.
Ocorre, no entanto, que, se o fazem honestamente, não se dão conta de que estão como quem persegue uma miragem.
O que os israelenses conseguiram fazer, ao longo de décadas, foi transformar continuamente as circunstâncias, para que o possível fosse cada vez menos.
O mundo, ou uma parte dele, teria acreditado, em 1947, que a solução de dois Estados que realizaria a Justiça dividiria a Palestina histórica praticamente meio a meio.
Hoje uma maioria pensa, ou ao menos diz, que o Estado palestino teria cerca de 20% do território histórico, seria desmilitarizado – já que, segundo a fórmula, ninguém se esquece de que é preciso garantir a segurança de Israel, o qual, por sua vez, imagina-se, não representa risco à segurança dos palestinos – e estaria virtualmente sob o controle de Israel.
A solução de dois Estados, tal com se anuncia hoje, concebe um Estado vivendo ao lado – talvez seja mais apropriado dizer acima – de um simulacro de Estado. E mesmo o simulacro parece longe do alcance das mãos.
Se e quando o simulacro se realizar, temo que será para permitir que uma solução enterre de vez a esperança de Justiça.

(*) Salem H. Nasser é professor de Direito Internacional da Direito-GV
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/31320/dois+estados+entre+miragem+e+simulacro.shtml 

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